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trabalhos de Cecília Lima, Isadora Almeida e Raíssa Studart



curadoria de Kabe Rodriguez
Todo
[Uma percepção e completude através do olhar. Sensação ilusória, confortante. Presença]



Começar pela indagação de um problema me parecia arriscado, mas importante. O problema seria mais um marco, como a certeza visibilidade de uma torre, do que uma uma busca por respostas. Mas assim como podemos questionar se uma torre não é qualquer outra coisa menos uma torre sem sua prática adjetiva de ser vista, podemos apontar que um problema seria sempre um índice de resposta.

Indicaria então a matéria como essa pontuação no espaço, sendo um de seus problemas importantíssimos para o que pensamos neste texto. A relação da matéria com o espaço atravessaria questões de níveis atômicos para questões filosóficas e subjetivas; ‘As coisas realmente se tocam?’ indicaria o percurso da exposição. 


Espaço
A linguagem da escultura carrega um papel importante nos questionamentos da relação do corpo com o espaço. Assim como a escultura seria uma vírgula no espaço, o corpo pontuaria o tom da sentença; o início e o fim da questão.
Tornam-se mensuráveis as relações de distâncias, escalas, de poder e controle quando se está presente a uma escultura, friccionando a potencialidade de subversão do espaço pela presentividade do desejo de contato do corpo com a matéria. Tão quanto a abstração do corpo, da matéria e do espaço, em uma relação primal de pertencimento de um todo.

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todo: escultura + corpo + espaço
espaço: da escultura, na escultura
entre: a relação do todo + espaço = corpo



O que uma escultura rasa, em comparação à superfície em que se instala, pode marcar se não lidamos com uma monumentalidade, supondo que seu extremo oposto seja o arranha-céu? Sustenta-se aí uma relação de convite, podemos nos entregar a sua localidade sem o conflito da sensação de deslocamento que uma escala monumental apresenta. Podemos nos dispor a circulá-la ou saltá-la, porém, caberá a nossa monumentalidade aérea admitir nossos desejos. 

Poderíamos então entender toda escultura como uma torre, mas poderíamos nos entender como uma torre que se faz ser vista à toda escultura, em um diálogo de visibilidade e interação pelo olhar do corpo.

Entre
[A iminência da primeira mordida do ouroboros em sua cauda]

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O Entre seria a potencialidade do encontro, o toque entre a matéria e a poética da matéria. É o desejo não da materialidade da pedra mas a substantividade efêmera que escurece a matéria. 

Notamos o Entre quando a forma se apresenta em sua fragmentação, em sua existência para o desgaste; a materialidade feita para se desmaterializar em percurso. 

As rachaduras seriam incisões utópicas, e extremamente políticas, de como o corpo e o espaço são sempre matérias em constante diálogo. Os caminhos, as formas, as figuras seriam os tremores necessários para a subversão do espaço pelo corpo, marcando o frente a frente o quê cada um inscreve no outro. 

Pensar o mundo como uma solidez estaria entre a tolice e uma ingênua esperança, inverso ao pensar que ele é sumos da matéria, em vontade de aproximação, uma urgência de contatos tão fortes que sua realização só cessaria na presentificação de desastres.

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Se deixar ser vista pela rachadura. 





Kabe Rodríguez.
Sexta-feira, 13 de abril de 2018. Em algum lugar do Distrito Federal, Brasil.

INFERNINHO DA KATYA FLAVYA 2.0